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Barbeiros brasileiros fazem sucesso em Portugal

Muitos profissionais têm saído da condição de empregados para montar os próprios negócios

Trocar de profissão depois dos 50 anos é difícil. Largar para trás a família, os amigos e o país em que se nasceu é mais complicado ainda. É preciso muita vontade de mudar e, sobretudo, resiliência para se reconstruir. Seis anos depois de encarar todos esses desafios, o carioca Luca Loureiro, 57, tem a certeza de que tomou a decisão correta.

Ele não aguentava mais o estresse do trabalho como produtor cultural no Rio de Janeiro e ansiava por uma vida menos corrida e um emprego que lhe rendesse o suficiente para bancar todas as suas despesas. Em Portugal, tornou-se barbeiro e se juntou a um time de talentos que vêm fazendo barba, cabelo e bigode dos portugueses. “Simplesmente, me encontrei”, afirma.

O número de barbeiros brasileiros trabalhando em Portugal é impressionante. De Norte a Sul do país, é possível encontrar um profissional da tesoura que, como funcionário ou dono do próprio negócio, está difundindo um estilo que os portugueses incorporaram de vez. “Com certeza, nós, os barbeiros brasileiros, despertamos nos portugueses a preocupação com a estética, com um cabelo bem cortado, uma barba estilosa e uma pele bem tratada”, diz o paulistano Thiago Carvalho, 44, dono da Senhor Barbeiro, em Oeiras, cidade próxima a Lisboa. “Aos poucos, fui conquistando a confiança da clientela. Hoje, não sobra vaga na minha agenda diária. Ofereço um serviço exclusivo e diferenciado, que não existia em Portugal”, ressalta.

Desde a adolescência, Thiago ouvia do pai que ser barbeiro era um ótimo negócio. “Tinha de 15 para 16 anos, quando meu pai me chamou a atenção para a profissão. Ele citava como exemplo o sucesso da família de um amigo meu. Os sete irmãos abriram uma barbearia nas proximidades da nossa casa. O negócio prosperou tanto, que logo eles investiram em outros ramos”, lembra. “Ouvia aquilo e dizia que não tinha nada a ver comigo, e acabei seguindo por outros caminhos e me formei em publicidade”, complementa. A sacudida para a mudança ocorreu quando o paulistano foi demitido de uma grande multinacional, depois de 12 anos de serviços prestados na área de recursos humanos. “Não esperava aquilo”, destaca.

O choque da demissão havia sido forte. Fora da zona de conforto, Thiago lembrou-se do que o pai havia lhe martelado na cabeça quando menino. “Pensei, vou experimentar ser barbeiro”, conta. Ele se matriculou, então, naquele que, à época, era considerado o melhor curso de corte de cabelo em São Paulo. Em vez dos três meses tradicionais de aprendizado, estudou por quase um ano. “Quis me aprofundar no conhecimento das técnicas”, assinala. “Aprendi a cortar cabelo com uma mulher, que tinha sido aluna de dois dos maiores barbeiros do mundo, Lion Bergman e Robert Rietveld, que fundaram a Schorem, em Roterdã, na Holanda, e onde, recentemente, estudei por uma temporada”, complementa.

Não satisfeito, Thiago embarcou para Minas Gerais, para um período de aprendizado com o lendário barbeiro Elias. Depois de duas semanas de preparação, se sentiu pronto para abrir uma barbearia em um shopping de Santos, onde estava morando. Um ano depois, em 2012, encerrou o negócio, fez as malas e se mudou para Portugal. A chegada ao país foi mais fácil do que o imaginado, porque ele já tinha cidadania lusa, herdada do avô. No Porto, abriu um salão dentro de uma loja de um supermercado, na qual também atendia a mulheres. Há 11 meses, deu outro passo e abriu a atual barbearia, que, garante ele, é a sua realização profissional. “Não me vejo fazendo outra coisa, nem mesmo aos 75 anos”, afirma.

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https://www.pois.pt/noticia/geral/2024/02/06/barbeiros-brasileiros-fazem-sucesso-em-portugal/362.html